segunda-feira, 13 de abril de 2009

E tem essa hora, essa hora só minha. A hora em que o meu corpo cansado, após ceder à vontade da dança durante horas seguidas, diz chega, eu preciso parar. Arrasto o meu corpo para casa e o esfrego sob a espuma espessa de erva doce. Mas a dança, que não o liberta, faz da água, uma desculpa ilícita para dançar. Como se fosse a sua última esperança, meu corpo não espera a toalha e esconde-se. Refugia-se. Mas a dança não é aqui fora, pobre corpo. A dança é bem aqui dentro: ele se cansa, mas ela não. Por isso, tem essa hora, essa hora só minha. A hora em que meu corpo escorrega as mãos sobre a pele molhada, a pele onde a dança se esconde. Mas ela não se entrega e vê, sob os furinhos da costura do edredon, dezenas de focos de luz, então é hora de dançar. E se registrar um pensamento é tirar a roupa, aqui estamos. Eu, meu corpo e minha dança, sob os holofotes mínimos da costura do edredon. E se registrar um pensamento é ser apenas aquilo que se é, e ser bonito e suave do jeito que se é, aqui estamos nus: eu, meu corpo e minha dança. Minhas mãos que escorregam, como cúmplices do seu assassinato. É preciso matá-la asfixiada, é preciso! E só quando eu perco a minha respiração, eu sei que o molhado que me abandona é a dança que deixou, enfim, meu corpo em paz.

2 comentários: